Contos: Delírios da Noite

I.

" Aurora entrou pela aquela porta pesada. Fez um estalo que junto com ela tremeu também. Lá dentro, um salão oval enorme com um lustre de cristal bem no meio. Parecia um grande céu marfim e um sol dourado ao meio-dia.
Lá estava Ele, sentado na sua grande mesa com tantas cadeiras que parecia um cinema. Sentado no seu ego. A olhou lá de cima, com seus olhos redondos e brilhantes, como uma verdadeira fera á vigiar sua presa. Aurora se sentiu como uma rosa que havia sido furtada nas histórias que seu pai á contava. Rosas que são admiradas, acariciadas e depois arrancadas de suas raízes á força.

-Aproxime-se, -disse ele- Não tenha medo...

Já era tarde, a voz rouca e trovejada dele já tinha a assustado o suficiente para recua. Pois então ele vendo a angustia da mais nova flor de seu jardim, estendeu a mão para sua bela que a segurou ainda tremula.
Aurora por um momento, no caminho entre a sala oval e a mesa, sentiu a mão sobre a mão dele. Ela se perdia entre as mãos fortes que a seguravam. Grandes e fortes, ele a apertava, parecia sentirem medo que as delas fugissem.
Ao aproximar-se da grande mesa, ela percebeu o banquete servido. Como se realmente haveria muitos convidados. Não, não haveria. Só havia dois pratos entre o aparelho de jantar tão lustroso.

-Sente-se. - disse ele apontando para a cadeira onde o prato cobreado estava. Uma cadeira do outro lado da mesa. De frente á que parecia ser a dele, mas tão longe pela mesa comprida que ela mal podia ver seu rosto de perto. Na verdade sua cadeira parecia um trono. Muito maior que as outras e com um tom de ouro velho bem diferente das outras. Parecia que seu ego também contaminava seus pertences.

Então Ele pousou sua mão sobre o pequeno sino ao lado. E com um balanço apenas, soou pela sala silenciosa o som do pequeno sino. Aurora olhou de um lado pro outro esperando que algo acontecesse. Der repente a porta ao lado da sala (talvez da cozinha) se abriu calma e silenciosa. Dela apareceu duas garotas muito parecida, Aurora achou que talvez até gêmea.
Entraram na sala com bandejas reluzentes e nas pontinhas dos pés como se realmente fossem bailarinas. Colocaram as bandejas na mesa e tiraram as tampas que preservava as comidas. E com um simples aceno dele, puseram a servir a comida.
Serviram Aurora com um leve sorriso no rosto. Ficou um tempo admirando seu rosto, o que á deixou envergonhada. Aurora tinha uma impressão que ele havia as mandado serem gentil.
Ao comer, Aurora olhava para ele do outro lado da mesa disfarçadamente. Percebia que ele não tirava os olhos dela nem um minuto. Como se não acreditasse que ela estava ali. Mordeu sua maçã com um leve sorriso no rosto, parecia que planejava algo muito sombrio para ela. O coração de Aurora pulou tão forte no peito, que chegou á doer. Que pensamento sujo tinha passado pela cabecinha sombria dele??
Então Aurora terminou seu banquete. Havia comido pouco, afinal não conseguia comer quando estava nervosa. Queria que seu jantar durasse toda á noite. Tinha medo do que poderia acontecer dali pra frente.
Bem, ela teria que se acostumar! Afinal as rosas também são arrancadas de seus jardins. E, como as rosas, seu único destino seria se acostumar com o lugar que era lhe oferecido ou secar de tristeza até a morte.E por mais medo que Ele lhe parecia, não poderia negar a confiança e segurança que ele passava. Ele, ali com seu ego todo em terno e gravata, seus olhos verde-amarelados como os gatos e seu cabelo levantado. Ele que á segurava tão forte, como se dissesse: “-Pode cair, querida. Eu lhe amparo”.
Talvez a convivência com ele fosse melhor do que com as outras pessoas. Pelo menos Ele tinha um lugar para ela, uma atenção. É! Ela queria dar a cara pra bater. Quer provar um pouco disso, mesmo que fosse para cair depois! Afinal, não é Ele mesmo que se dispõem á ampara-la?? Talvez não fosse a quem confiar de verdade. Mas até que poderia ser uma boa companhia... "

Continua...

By Cízz Delirium